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15/7/2025      10:04:00

 

 

Tarifaço dos EUA pode impactar o setor imobiliário no Brasil

Por: * Gerson Rodrigues

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros - a maior entre os 22 países afetados - trouxe, inegavelmente, instabilidade para diversos setores da economia.

 

O comércio exterior, especialmente, nas áreas de aviação, agroindústria, mineração e metalurgia, deve sofrer os primeiros impactos diretos. Mas os reflexos desse movimento também devem se espalhar de forma indireta, afetando outros segmentos, como o mercado imobiliário corporativo.

 

Impactos indiretos sobre a ocupação de lajes e centros logísticos

 

Empresas que operam fortemente com exportação, poderão enfrentar reduções expressivas nas margens de lucro. Com menos receita entrando no caixa, é comum observar uma reavaliação estratégica dos gastos. Historicamente, períodos de pressão econômica sobre exportadores culminam em cortes de pessoal, enxugamento de operações e redimensionamento de áreas locadas.

 

No universo de escritórios e galpões, isso tende a se traduzir em devoluções parciais ou totais de espaços corporativos - o que influencia diretamente a taxa de vacância e o dinamismo dos contratos no mercado. Justo por eu fazer parte dessa indústria há muito tempo, percebo ser notório (e até mesmo aguardado) o recuo em momentos como esse.

 

Esse movimento já foi observado em momentos anteriores de desaceleração econômica global. Quando setores inteiros recuam, o mercado imobiliário corporativo é atingido em dois eixos: primeiro, com a devolução de espaços já ocupados; depois, com a postergação de novas locações e a interrupção de planos de expansão. Mesmo setores resilientes, como logística e distribuição, podem sentir os efeitos caso o encarecimento das exportações leve à redução no fluxo de escoamento de produtos e mercadorias.

 

Cautela e postergação de decisões estratégicas

 

Além dos impactos diretos em empresas com forte atuação internacional, o ambiente de incerteza gerado por medidas unilaterais como o tarifaço tem efeitos intangíveis (ao menos, nessa fase inicial), mas significativos. O receio de uma escalada nas tensões comerciais, com novas tarifas, barreiras ou mudanças nos acordos multilaterais, deixa o empresariado mais conservador.

 

Isso significa menos apetite para assumir riscos, especialmente os ligados a investimentos de longo prazo, como ocupação de novas sedes, instalação de centros de distribuição ou realocação de operações para hubs mais estratégicos.

 

Para o mercado de escritórios, esse é um sinal de alerta. Mesmo que os fundamentos de vacância (em queda) e absorção líquida (em alta) no primeiro semestre de 2025 tenham se mostrado sólidos, o segundo semestre pode trazer revisões de planos por parte de locatários que estavam em negociação.

 

A mesma lógica vale para o mercado logístico: com mais de 5 milhões de metros quadrados em construção no Brasil, eventuais revisões de escopo por parte de grandes exportadores podem afetar as entregas previstas entre 2025 e 2026.

 

Monitoramento constante será essencial

 

Diante desse cenário, é fundamental que os players do mercado imobiliário mantenham atenção redobrada às movimentações macroeconômicas e comerciais. Mais do que acompanhar indicadores de vacância e preço por metro quadrado, será preciso analisar com profundidade o comportamento dos principais setores exportadores e entender como seus movimentos repercutem sobre o portfólio imobiliário ocupado hoje.

 

Enquanto aguardamos os nossos números consolidados do 2T25, que serão divulgados nas próximas semanas, uma coisa é certa: o tarifaço imposto pelos EUA reacende a necessidade de planejamento, leitura de cenário e flexibilidade na tomada de decisões imobiliárias. O impacto talvez não seja imediato, mas o mercado já começou a reagir - e os próximos trimestres serão decisivos para medir a profundidade dessa maré.

 

* Gerson Rodrigues, sócio-diretor da consultoria imobiliária Realty Corp.

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Tarifaço dos EUA

Reflexos desse movimento também devem se espalhar de forma indireta, afetando outros segmentos, como o mercado imobiliário corporativo

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