13/10/2025 12:31:00
Novo modelo de crédito habitacional do governo beneficia classe média
Por: Andreia Verdélio, da Ag. Brasil
Caixa Econômica federal deve financiar mais 80 mil novas moradias até 2026
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (10), que, a partir de agora, a classe média também passa a ser assistida pelos programas de habitação do País.
Lula anunciou o novo modelo de crédito imobiliário, que reestrutura o uso da poupança para ampliar a oferta de crédito, especialmente, para essa parte da população que ganha mais de R$ 12 mil.
Durante participação no evento Incorpora 2025, em São Paulo (SP), um dos maiores do setor habitacional, Lula disse que sempre teve “uma inquietação” para atender à necessidade de moradias da classe média. “Um trabalhador metalúrgico, um bancário, um químico, um gráfico, um trabalhador da Caixa Econômica, um professor [...] Essas pessoas não têm direito a comprar casa, porque elas nem são pobres, não estão na faixa 1, nem na faixa 2 [do Minha Casa, Minha Vida]”, disse.
“Esse programa foi feito pensando nessa gente, pensando em dar àqueles que ainda não têm direito, o direito de ter a sua casinha um pouco melhor”, afirmou.
Para o presidente, a classe média pode escolher onde morar. “Ele não quer uma casa de 40 m², ele quer uma casa de 80 m². Ele não quer morar no Cafundó do Judas, ele quer morar no lugar mais próximo onde ele está habituado a morar. O que nós vamos tentar fazer é adequar as dificuldades econômicas das pessoas levando em conta o respeito à dignidade humana de morar no lugar aonde pensa que é bom morar”, disse.
O novo modelo de crédito imobiliário do País reestrutura o uso da poupança para ampliar a oferta de crédito.
Veja regras:
- Valor máximo do imóvel passa de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões;
- Famílias com renda familiar entre R$ 12 mil e R$ 20 mil terão acesso ao novo financiamento;
- Operações feitas pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH), com juros limitados a 12% ao ano;
- Caixa volta a financiar 80% do valor do imóvel.
Fim do compulsório
Após um período de transição, o total dos recursos depositados na caderneta de poupança será referência para uso no setor habitacional, com o fim dos depósitos compulsórios no Banco Central (BC). Além disso, o valor máximo do imóvel financiado no Sistema Financeiro da Habitação (SFH) passará de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões.
Hoje, famílias com renda até R$ 12 mil são atendidas pelo Minha Casa, Minha Vida, com juros menores, e, desde o início do seu terceiro mandato, Lula defende alternativa de financiamento para a classe média.
A previsão é que, com essa mudança, a Caixa Econômica Federal financie mais 80 mil novas moradias até 2026.
Atualmente, 65% dos recursos captados pelos bancos da poupança precisam ser direcionados ao crédito imobiliário; 15% estão livres para operações mais rentáveis e 20% ficam com o Banco Central na forma de depósito compulsório.
Os financiamentos via SFH vinham perdendo espaço no mercado em meio a saques da caderneta de poupança, principal fonte de recursos para crédito habitacional no País.
Em 2023 e 2024, as retiradas líquidas da poupança foram R$ 87,8 bilhões e R$ 15,5 bilhões, respectivamente. Em 2025, caderneta já tem resgate líquido de R$ 78,5 bilhões. Entre as razões para os saques está a manutenção da Selic – a taxa básica de juros – em alta, o que estimula a aplicação em investimentos com melhor desempenho.
Transição até 2027
A reforma anunciada hoje “moderniza as regras” de direcionamento do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), com o objetivo de maximizar a poupança como fonte de financiamento.
“Na medida em que mais valores são depositados em poupança, mais crédito será disponibilizado para financiamento imobiliário, o que tende a ampliar a oferta de crédito, considerando ainda as captações de mercado, por exemplo, via LCIs (Letras de crédito imobiliário) e CRIs (Certificados de recebíveis imobiliários)”, explicou o governo, em comunicado.
Após um período de transição, o direcionamento obrigatório de 65% dos depósitos da poupança acabará e os depósitos compulsórios no Banco Central referentes a esse tipo de aplicação também.
O total dos recursos depositados na caderneta de poupança passará a ser referência para o volume de dinheiro que os bancos devem destinar ao crédito habitacional, incluindo as modalidades do SFH e do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI).
Quando estiver plenamente implementado o novo modelo, se uma instituição captar no mercado, por exemplo, R$ 1 milhão e direcionar integralmente esse montante para financiamento imobiliário, ela poderá usar a mesma quantia captada na poupança, que tem custo mais baixo, para aplicações livres por um período predeterminado.
Para isso, 80% dos financiamentos habitacionais deverão ser feitos pelas regras do SFH, que têm juros limitados a 12% ao ano.
“O novo modelo aumenta a competição, pois incorpora os depósitos interfinanceiros imobiliários ao direcionamento, o que permite que instituições que não captam poupança também concedam crédito habitacional em condições equivalentes às demais”, argumenta o governo.
A transição será gradual, iniciando ainda este ano. O novo modelo deverá ter plena vigência a partir de janeiro de 2027. Até lá, fica valendo o direcionamento obrigatório de 65% dos recursos captados na poupança para operações de crédito habitacional.
Dos 35% restantes, pelas regras atuais, 20% são recolhidos ao Banco Central a título de depósito compulsório e 15% vão para operações livres. Durante a transição, o volume dos compulsórios será reduzido para 15% e os 5% serão aplicados no novo regime.
Edição: Lílian Beraldo
Foto: Paulo Pinto / Ag. Brasil

O presidente Luis inácio Lula da Silva (dir.) e o vice Geraldo Alckmin
1º/10/2025 18:21:17
SP tem 6 estabelecimentos fechados por suspeita de bebida adulterada
Por: da Ag. Brasil
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Os estabelecimentos ficam nos bairros da Bela Vista, Itaim Bibi, Jardins e Mooca, na capital, e também nas cidades de São Bernardo e Barueri, na região metropolitana. Em Barueri, 128 mil garrafas de vodca foram apreendidas
Seis estabelecimentos foram fechados por suspeita de comercialização de bebidas alcoólicas adulteradas, informou na tarde desta quarta-feira (1º) o gabinete de crise criado pelo governo do Estado de São Paulo para coordenar as ações de enfrentamento aos casos de intoxicação por metanol.
Os estabelecimentos ficam nos bairros da Bela Vista, Itaim Bibi, Jardins e Mooca, na capital, e também nas cidades de São Bernardo e Barueri, na região metropolitana. Neste último município, segundo o gabinete, foram apreendidas 128 mil garrafas de vodca. Lacrado, o lote aguarda a apresentação da documentação para liberação.
A fiscalização é feita de modo conjunto entre as secretarias de Saúde, Segurança Pública, Fazenda e Justiça. As medidas, conforme o governo estadual, “são cautelares, e o envolvimento dos estabelecimentos com os casos é investigado”.
Uma distribuidora de bebidas teve sua inscrição estadual suspensa preventivamente e outras três estão sob análise para suspensão. Além disso, um bar, nos Jardins, também teve a inscrição suspensa após a interdição do local.
Em Mogi das Cruzes, houve a apreensão de 80 garrafas de bebidas alcoólicas com indícios de adulteração e falsificação em uma adega. E, em Americana, duas pessoas foram detidas e mais de 17,7 mil bebidas apreendidas.
No balanço do gabinete, também consta a apreensão de 802 garrafas, sendo 660 em distribuidoras e 142 em três bares da capital.
Edição: Vinicius Lisboa
Foto: Paulo Pinto / Ag. Brasil

A fiscalização é feita de modo conjunto entre as secretarias de Saúde, Segurança Pública, Fazenda e Justiça

24/09/2025 15:48:11
Veto a celular leva 80% dos alunos a prestar mais atenção nas aulas
Por: Flávia Albuquerque, da Ag. Brasil - SP
Pesquisa ouviu 2.840 alunos, 348 professores e 201 gestores no País
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Mais de 80% dos estudantes brasileiros afirmam que têm prestado mais atenção nas aulas depois da restrição ao uso de celulares em salas de aula.
A percepção de impacto positivo é maior nos anos iniciais do Ensino Fundamental I, com 88% afirmando prestar mais atenção nas aulas. No Ensino Médio, 70% disseram perceber mudanças para melhor sem os celulares.
Os dados fazem parte de pesquisa realizada pela Frente Parlamentar Mista da Educação, em parceria com o Equidade.info, iniciativa do Lemann Center da Stanford Graduate School of Education.
O estudo mostra, também, que 77% dos gestores e 65% dos professores relataram diminuição do bullying virtual dentro das escolas. Entre os alunos, entretanto, apenas 41% afirmaram sentir essa mudança, o que sugere que parte dos conflitos pode não estar sendo reportado pelos estudantes ou percebido por professores e gestores escolares.
Tédio cresce
Segundo os dados do levantamento, 44% dos alunos disseram sentir mais tédio durante os intervalos e os recreios. Esses números são mais elevados entre estudantes do Ensino Fundamental I (47%) e do período matutino (46%). Além disso, 49% dos professores relataram aumento de ansiedade entre os alunos com a ausência do uso do celular.
Em relação ao comportamento dos estudantes, o Nordeste aparece como destaque positivo, representando 87% dos avanços. O Centro-Oeste e o Sudeste são as regiões com o menor índice de melhora no ambiente escolar, com 82% indicando que a eficácia das medidas tende a variar segundo fatores regionais.
“Proteger nossos estudantes do uso do celular em sala de aula é garantir um ambiente mais saudável e focado no aprendizado. O resultado que vemos hoje é a confirmação de que a educação precisa ser prioridade, com políticas que cuidem do presente e preparem o futuro dos nossos jovens”, disse o presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, deputado Rafael Brito.
A presidente do Equidade.info, Claudia Costin, ressaltou que a pesquisa mostra avanços positivos no foco e na atenção dos alunos, mas as questões como tédio, ansiedade e bullying, ainda muito presentes entre os estudantes, indicam que ainda há desafios a serem enfrentados.
“Houve uma queda significativa no bullying virtual na visão dos gestores, mas é crucial ouvirmos os estudantes que ainda sentem o problema. Ou seja, a conclusão é que a restrição foi positiva, mas sozinha não basta: as escolas precisam criar alternativas de interação e estratégias específicas para cada idade", avalia.
Estratégias
Segundo o coordenador do Equidade.info e docente da Stanford Graduate School of Education, responsável pela pesquisa, Guilherme Lichand, os dados reforçam a necessidade de estratégias diferenciadas por faixa etária e rede de ensino, além do desenvolvimento de práticas pedagógicas que mantenham os estudantes engajados e promovam seu bem-estar mesmo sem o celular em sala de aula.
“Os resultados confirmam que a regulação do uso de celulares trouxe ganhos importantes para o aprendizado. Mais do que limitar o uso do telefone celular, a lei abre espaço para repensarmos como a escola se conecta com os alunos. O próximo passo é garantir que a aplicação da lei seja efetiva em todas as etapas, respeitando as particularidades de cada contexto escolar. Assim, conseguiremos transformar a medida em uma política duradoura, que una foco acadêmico e bem-estar dos estudantes”, enfatiza.
A lei que proíbe o uso de celular dentro das escolas pelos alunos foi sancionada em janeiro de 2025 após aprovação no Congresso Nacional.
O estudo ouviu 2.840 alunos, 348 professores e 201 gestores em escolas públicas municipais, estaduais e privadas de todas as regiões do País, entre maio e julho de 2025.
Edição: Kleber Sampaio
Foto: Tânia Rêgo (Ag. Brasil)

Em relação ao comportamento dos estudantes, o Nordeste aparece como destaque positivo, representando 87% dos avanços
21/9/2025 17:56:00
Em todo País, milhares protestam contra anistia e PEC da Blindagem
Por: Ana Cristina Campos/RJ e
Lucas Pordeus León/DF, da Ag. Brasil
Atos aconteceram em 33 cidades, incluindo as 27 capitais
Milhares de pessoas foram as ruas das capitais do Brasil neste domingo (21) para protestar contra a anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado e a PEC da Blindagem (chamada da Bandidagem), que prevê exigência de autorização do Congresso para processar criminalmente deputados e senadores.
Foram registradas multidões nas ruas de grandes cidades como Salvador, Recife, Natal e Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Ao todo, 33 cidades tiveram atos, incluindo todas as capitais.
Com o mote “Congresso Inimigo do Povo”, os manifestantes exigiram a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, entre outros crimes.
Rio de Janeiro
Na Praia de Copacabana, na zona Sul do Rio de Janeiro, as manifestações ocorreram também para protestar contra a PEC da Blindagem e a anistia a condenados por golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-ministros e aliados.
A proposta de emenda à Constituição repudiada pelos manifestantes foi aprovada pela Câmara dos Deputados na última terça-feira (16). Na prática, a medida dificulta a abertura de processos criminais contra parlamentares, ao impor que as casas legislativas devem aprovar a abertura desses processos.
Aos gritos de "Sem Anistia" e "Viva a democracia", os manifestantes se reuniram na altura do Posto Cinco da Orla de Copacabana, para escutar os discursos de lideranças políticas e assistir aos shows dos cantores Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Djavan, entre outros.
Caetano Veloso disse, durante o ato musical, que a democracia no Brasil resiste. Segundo ele, a cultura nacional apresenta grande vitalidade. "Não podemos deixar de responder aos horrores que vêm se insinuando à nossa volta".
Gilberto Gil lembrou que o Brasil já passou por momentos semelhantes em sua história. "Passamos por momentos parecidos sempre em busca da autonomia, o bem maior do nosso povo", afirmou.
De estudantes a aposentados
A servidora pública federal aposentada Regina de Brito, de 68 anos, foi uma das primeiras a chegar, para ficar bem perto dos cantores do ato musical. Ela disse ser muito importante apoiar o movimento contra os que tentaram planejar um golpe no País.
"Eu fui criada na ditadura militar. Sei como era isso. Esses caras acabaram de ser condenados, nem estão cumprindo pena e já querem anistia? E esse Congresso vilão, da direita, em vez de votar pautas do povo, como a isenção do imposto de renda até R$ 5 mil, é um Congresso que não pensa no povo em nenhuma instância, só pensam no próprio umbigo".
Brasília
A manifestação ocupou as seis faixas de via na Esplanada dos Ministérios, com milhares de pessoas presentes neste domingo (21), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para protestar contra os projetos da anistia aos golpistas e da blindagem de parlamentares. A passeata ocupou as seis faixas do Eixo Monumental.
Sob sol forte, a multidão seguiu em marcha atrás de um pequeno trio elétrico, após uma batalha de rimas e discursos de lideranças políticas do Distrito Federal (DF). O trajeto de cerca de 1,5 quilômetro foi até a frente do Congresso Nacional, onde o cantor e compositor Chico César encerrou o ato cantando alguns de seus sucessos. O ato ocorreu das 9h às 14h.
Com o mote “Congresso Inimigo do Povo”, os manifestantes gritavam “sem anistia”; “queremos Bolsonaro na cadeia”, pedindo o cumprimento da condenação do ex-presidente a 27 anos e três meses de prisão. A pena foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a culpa de Bolsonaro e aliados na trama golpista que tentou reverter o resultado das eleições de 2022 e culminou nos atentados à Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023.
Os cartazes traziam ainda dizeres como “sem bandidagem”, em referência a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apelidada pelo ato de “PEC da Bandidagem”, também conhecida como PEC da Blindagem ou das Prerrogativas. Segundo a proposta, a abertura de processos judiciais e investigações contra parlamentares precisará ser aprovada pela maioria das próprias casas legislativas.
Indignação
A bancária Keyla Soares, de 42 anos, contou à Agência Brasil que ficou indignada com a proposta que exige autorização prévia do Parlamento para processar criminalmente deputados e senadores.
“É uma sem vergonhice. É ofensiva essa PEC. Eles só trabalham em defesa deles mesmos. O Brasil tem que se unir contra isso. Estamos lutando também pela democracia”, comentou.
O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), foi um dos principais alvos dos manifestantes em cartazes como “Motta Capacho”; “Centrão ladrão”; “PCC: Primeiro Comando do Congresso”. Como presidente da Casa, Motta é o responsável por definir a pauta de votações e incluiu a PEC e a anistia na programação da última semana.
A estudante Sara Santos, de 26 anos, disse que a PEC é um absurdo e ficou sem acreditar quando soube da aprovação. Para ela, os parlamentares apenas querem se proteger da Justiça. A estudante também criticou o PL da anistia.
“Depois de tudo que a gente viveu com a ditadura militar, não podemos aceitar anistia contra quem atacou a democracia e tentou dar um golpe de Estado”, justificou.
Salvador
Em Salvador (BA), milhares de pessoas se concentraram no bairro da Barra, na beira da praia, onde a cantora Daniela Mercury se apresentou para o público. “Bandidagem não é com a gente”, disse a artista baiana.
O ato contou ainda com o ator Wagner Moura, que também cantou, além de elogiar o julgamento da trama golpista que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.
“Eu fiquei com vontade de falar só do momento extraordinário pelo qual passa a democracia brasileira, que é exemplo para o mundo inteiro. A gente que sempre cresceu dizendo que nossa democracia é frágil, que ela é jovem. Nossa democracia botou para ‘lenhar’ [para quebrar]”, disse Wagner Moura.
Outras capitais
Na capital mineira, uma multidão ocupou as ruas do centro da cidade, em concentração na Praça Raul Soares, com gritos de “sem anistia para golpistas”. O ato também contou com apresentação de artistas, entre elas, a cantora Fernanda Takai, da banda Pato Fu.
Em Recife (PE), o ato começou por volta das 14h, na Rua da Aurora, no centro da capital pernambucana, com o desfile do bloco de frevo Eu Acho é Pouco, com uma das mais tradicionais orquestras do carnaval de Olinda. Grupos de maracatu também marcam presença no ato.
A capital paraibana João Pessoa (PB) também fez um protesto nesse domingo, com gritos de “Fora, Hugo Motta”, que é um deputado federal paraibano e preside a Câmara dos Deputados. O parlamentar foi um dos principais alvos dos protestos pelo seu papel de pautar a votação que aprovou a PEC da Blindagem na Casa.
Também foram registrados atos em Belém (PA); Teresina (PI); Natal (RN); Fortaleza (CE); Porto Alegre (RS); Florianópolis (SC).
Convocados pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, ligados ao PSOL e PT, as manifestações contaram com a presença de sindicatos, grupos estudantis, artistas e movimentos sociais, como MST e MTST, além de outros partidos de esquerda e centro-esquerda.
Edição: Vinicius Lisboa / Ag. Brasil e FdC
Foto: Paulo Pinto / Ag. Brasil

Foram registradas multidões nas ruas de grandes cidades como Salvador, Recife, Natal e Belo Horizonte, Brasília, São Paulo (foto) e Rio de Janeiro
11/9/2025 04:00:00
Prefeito de SP retoma projeto de túnel que desabriga moradores na Vila Mariana
Por: Isabel Seta, da Ag. Pública
Obra com licitação rescindida na Vila Mariana é prioridade da prefeitura de SP e afeta comunidade com 200 famílias no bairro
“Estamos falando de uma comunidade que está há 75 anos no mesmo lugar”, disse Eduardo Canejo, presidente da associação de moradores da comunidade Sousa Ramos, na Vila Mariana, zona Sul de São Paulo, ao iniciar sua fala diante do auditório lotado para a audiência pública sobre uma obra prioritária da gestão do prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
“Não tem como remover essa relação. Isso tem que ser tratado com mais humanidade”, continuou, seguido por gritos e aplausos das pessoas na plateia, que empunhavam cartazes com os dizeres: “Sousa Ramos fica”, “Sousa Ramos resiste” e “túnel não”.
Sousa Ramos é uma de duas comunidades que a prefeitura quer remover para dar lugar ao “túnel Sena Madureira”, cujo objetivo declarado é eliminar um semáforo entre a rua Sena Madureira e a rua Ricardo Jafet, na Vila Mariana, o que, segundo a gestão Nunes, facilitará o trânsito de veículos entre os bairros Ipiranga, Morumbi, Itaim Bibi e Saúde.
Trata-se de um projeto antigo e repleto de problemas. Depois de iniciar a obra em setembro do ano passado – quando os moradores da Sousa Ramos foram surpreendidos com tratores arrancando árvores no lote ao lado da comunidade –, a prefeitura se viu obrigada a rescindir o contrato anterior, após recomendações do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que apontavam uma série de irregularidades no processo.
Por Que Isso Importa?
Projeto do túnel existe desde 1970 e teve licitação extinta por decisão do Controladoria-Geral do Município (CGM);
Famílias das comunidades que serão afetadas pela obra não tiveram resposta da prefeitura de SP sobre para onde poderão ser movidas.
Agora, a gestão parece ter pressa. Depois da rescisão em fevereiro, a gestão Nunes afirma ter realizado “novos estudos” para a viabilizar o projeto, que foi submetido à consulta pública entre 25 de agosto e 4 de setembro, pouco mais de uma semana. Ele foi apresentado aos moradores da Vila Mariana, em audiências públicas nos últimos dias 4 e 8 de setembro. O próximo passo seria a publicação de uma nova licitação, prevista já para a próxima semana.
Tudo isso sem que a prefeitura tenha acordado com as mais de 200 famílias das comunidades Sousa Ramos e Luís Alves qual será o destino delas.
Segundo o secretário de Habitação do município, Sidney Cruz, a primeira opção a ser oferecida é uma indenização. Em caso de negativa, as famílias “poderão optar por atendimento habitacional definitivo”.
“Nós temos uma opção, mas é uma das opções, que é o empreendimento que está sendo construído lá no Sacomã, ao lado do metrô”, disse Cruz, durante a audiência pública nesta segunda-feira, 8 de setembro, sem dar mais detalhes sobre a localização exata e nem explicar quais seriam as outras opções.
“As pessoas [da comunidade Sousa Ramos] descobriram por meio de um PowerPoint que podem ir para o Sacomã”, afirmou o urbanista Marco Martins, porta-voz da Rede Sustentabilidade em São Paulo, e morador da Vila Mariana.
A falta de explicação sobre o destino da comunidade é um dos pontos de maior preocupação entre os moradores da Sousa Ramos, que cobram a realização de uma reunião com a gestão Nunes.
“Eu mostrei a minha residência para o senhor”, disse Fagner Teixeira ao secretário de Habitação. “Você viu minha sala, minha cozinha. Se o prefeito tiver uma residência melhor do que a minha, daí ele pode pegar a chave”.
Gerente de atendimento, Fagner Teixeira vive na Sousa Ramos com a esposa e o filho pequeno, que estuda numa creche vizinha. Em outubro do ano passado, quando a Pública esteve na comunidade, ele disse que a casa, planejada por ele da planta aos móveis, “foi uma conquista”.
“Todo mundo sabe a batalha que é ter uma casa própria, eu passei 15 anos construindo a minha casa”, disse Teixeira na audiência, sob aplausos dos presentes.
“O que vocês querem é fazer esse projeto para tirar os mais pobres do metro quadrado mais caro de São Paulo”, disse ainda um dos manifestantes.
Segundo registros da própria prefeitura, a comunidade Sousa Ramos existe desde 1949. Estabelecida em um terreno público, a comunidade foi se urbanizando cada vez mais ao longo dos anos. Os moradores asfaltaram a rua, implementaram pequenas garagens, colocaram um portão para segurança e investiram suas economias nas residências – hoje, cerca de 85 casas.
Também estruturam suas vidas a partir da infraestrutura e dos serviços oferecidos na Vila Mariana, um dos bairros mais nobres de São Paulo. Várias crianças e jovens possuem bolsas de estudo nas escolas privadas da região. E pelo menos cinco pessoas fazem tratamento de câncer nos hospitais do bairro.
Em 2016, a prefeitura revisou o zoneamento e classificou a área como uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis), onde o poder público deve agir para promover a regularização fundiária e urbanística. A regularização fundiária, inclusive, já estava em andamento pela Sehab, mas foi interrompida pela obra.
“É um pesadelo que eu não desejo para ninguém”, disse à Pública a assistente jurídica Ana Clara Costa, que cresceu na comunidade, onde seus pais e seus irmãos ainda vivem.
“Minha família, assim como todos os moradores, são pessoas trabalhadoras, mas humildes. Não tem condições de comprar nada ou pagar um aluguel de casa do tamanho da que eles moram na região. Para a prefeitura é bem simples: paga um auxílio aluguel, promete um reassentamento futuro. Em um apartamento de qual tamanho? 50m²? Você imagina morar uma família de cinco pessoas, mais cachorros, num local distante do trabalho deles. Mudar a vida do dia pra noite. É um desrespeito muito grande”, diz ela.
O primeiro estudo de impacto ambiental para o túnel, produzido ainda em 2009, já reconhecia esse problema. “Há um agravante considerando que a região é de valor imobiliário significativo, não havendo condições prováveis para a manutenção das famílias na mesma região. Do mesmo modo, não há condições de implantação de unidades habitacionais populares nesta região”, relata o documento.
Durante a audiência, o secretário Marcos Monteiro, da secretaria de Infraestrutura e Obras, responsável pelo empreendimento, acatou a proposta de realização de uma câmara técnica, proposta pela vereadora Marina Bragante (Rede Sustentabilidade). A câmara deve ser composta pelos representantes das secretarias envolvidas, uma comissão de moradores e os vereadores Marina Bragante (Rede), Nabil Bonduki (PT), Luana Alves (PSOL) e Renata Falzoni (PSB) – todos contrários à obra.
A ideia é que essa câmara faça um debate técnico sobre o empreendimento, analise alternativas e chegue a uma definição sobre o destino das comunidades. Mas ainda não há uma previsão para o início dos trabalhos e nem um cronograma estabelecido.
Morte de árvores e foco exclusivo em carros
A remoção das famílias não é a única fonte de críticas sobre o túnel. Moradores da região presentes nas audiências se manifestaram contra o corte de árvores e dizem que a prefeitura nega a existência da nascente de um córrego na área da obra – o que exigiria um licenciamento ambiental mais rigoroso.
Também dizem que a instalação do túnel ignora o Plano Diretor, o Plano de Mobilidade Urbana e o Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres, todos elaborados pela prefeitura.
Denunciam ainda o aspecto “rodoviarista” da obra, que prioriza carros, em detrimento do transporte coletivo, dos ciclistas e dos pedestres. Dizem que em nenhum momento a prefeitura apresentou outras opções para enfrentar o tráfego intenso na região.
Para se blindar das críticas, a prefeitura alterou o projeto da obra em relação ao que começou a ser executado no ano passado, quando os moradores da região realizaram várias manifestações contra o corte de árvores e a remoção das comunidades.
Na comparação com o projeto anterior, o novo desenho diminuiu a extensão do emboque e desemboque do túnel, o que reduziu de 170 para 97 o número de árvores a serem cortadas, além de passar a prever o transplante de 25 árvores adultas para outro local na mesma região.
A prefeitura também passou a dizer que o novo projeto não inviabiliza o corredor de ônibus da avenida Sena Madureira. Pelo Plano de Mobilidade Urbana, o corredor de 2,2 km deveria ter sido implementado ainda em 2024, mas que ainda nem foi iniciado pela gestão.
Ainda assim, moradores dizem que o novo projeto não resolve os problemas do túnel. A morte das árvores nas avenidas, por exemplo, vai contra o corredor verde identificado pela própria Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, que liga os parques Ibirapuera e Aclimação.
Já a nascente, que a gestão afirma não existir, é mencionada no Estudo de Viabilidade Ambiental do projeto, elaborado no ano passado, e em documentos anteriores da própria prefeitura.
“O estudo de tráfego apresentado não cita pedestres, só fala de carros. A cidade não é um autorama”, afirmou o especialista em mobilidade urbana Rafael Calabria, durante uma apresentação na segunda audiência.
“Moro na Luis Alves há 39 anos. Lá a gente vive em paz. Falam desse túnel desde os anos 1970, só que a necessidade mudou. E daí, agora, surge uma proposta que ninguém sabe de onde veio e que não coloca acessibilidade para pedestre, para cadeirante”, disse um participante identificado como Cauê, que usa cadeiras de rodas.
O presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Milton Persoli, apresentou durante a última reunião, um “estudo de semáforos” para ilustrar o impacto positivo do túnel. Segundo ele, 83 mil veículos circulam diariamente pelo cruzamento, local do semáforo que seria eliminado pela obra.
A prefeitura diz que o túnel beneficiará 800 mil pessoas por dia, mas não apresentou cálculos para embasar o número. Questionada pela reportagem sobre esse ponto, a administração não respondeu. Em vez disso, enviou uma nota na qual afirma que “os estudos do projeto foram atualizados para ampliar os ganhos socioambientais e de mobilidade urbana” e que “o novo desenho prevê a preservação de mais árvores, o plantio de 1.377 exemplares arbóreos e atendimento habitacional aos moradores atingidos”.
O que vale: novo túnel ou velho túnel?
Ainda de acordo com a prefeitura, “as contribuições colhidas nas etapas de consulta e audiência pública estão em análise para a posterior publicação do edital de contratação das obras”.
A ideia de uma nova licitação para a obra tenta, também, estancar as irregularidades do contrato anterior, identificadas pela Controladoria-Geral do Município (CGM) e pelo MPSP.
Em agosto de 2024, pouco antes da prefeitura reiniciar a obra, a CGM apontou que, em 2011, a construtora Queiroz Galvão (rebatizada como Ayla Construtora) fraudou a licitação da obra do túnel Sena Madureira, fato destacado pelo MPSP para recomendar a rescisão do contrato, o que a prefeitura acabou por acatar.
Risco de judicialização da obra
Além disso, três ações judiciais questionam o túnel na Justiça. São duas ações civis públicas (ajuizadas pelo MP) e uma ação popular (ajuizada pelo deputado estadual Eduardo Suplicy e pela vereadora Luna Zarattini, ambos do PT), que foram protocoladas antes da suspensão do contrato anterior e ainda estão tramitando.
A prefeitura foi perguntada pela reportagem sobre a insegurança jurídica de seguir com a obra, mas não respondeu.
Uma das ações questiona aspectos ambientais da obra, entre eles o uso do Estudo de Viabilidade Ambiental (EVA) para a obtenção da licença ambiental, expedida em agosto do ano passado. Uma perícia, realizada em dezembro, concluiu que “dada a magnitude do empreendimento”, o EVA “não apresenta todas as ferramentas, métodos e estudos necessários para garantia da prevenção de danos ambientais futuros decorrentes da obra, bem como não sustenta quais são os benefícios dentro do conceito de sustentabilidade”.
Segundo a gestão Nunes, a licença ambiental do ano passado, ainda que tenha sido expedida para o projeto anterior, permanece válida. Moradores, no entanto, defendem que diante da mudança do desenho do túnel, e como será realizada uma nova licitação, seria preciso refazer o processo de licenciamento ambiental. Não há, porém, segundo especialistas, uma regra clara sobre isso, cabendo interpretação.
“A prefeitura fala em novo túnel para tentar se descolar das acusações de cartel e falta de lisura na licitação (e atender a recomendação do MP de cancelar o pleito fraudado anterior), e dos problemas ambientais das árvores cortadas”, diz Lucian de Paula arquiteto e urbanista que integra o Coletivo Metropolitano de Mobilidade Urbana, e fazia parte do conselho participativo da Vila Mariana.
“A prefeitura se defende nos processos ambientais dos danos causados pela obra dizendo que houve “perda de objeto”, porque o contrato foi cancelado. Então, os processos deveriam ser extintos. Mas na hora de reciclar o estudo de impacto de trânsito ou licenciamento ambiental, aí é o ‘mesmo’ túnel”, complementa o urbanista.
Moradores excluídos de reunião
Sobram, ainda, críticas à forma com que a retomada do projeto vem sendo conduzida pela prefeitura, como a forma de realização das audiências e o tempo curto entre a abertura da consulta pública e a previsão de publicação da nova licitação.
Na primeira audiência pública, realizada no dia 4 de setembro, os moradores da Sousa Ramos relataram que foram impedidos de entrar, em um primeiro momento, porque o espaço reservado já estava lotado.
Aqueles que estavam presentes, no entanto, denunciaram que a audiência estava sendo ocupada por moradores de outros bairros, que teriam sido trazidos ao local em ônibus fretados. A mesma suspeita se manifestou novamente na segunda audiência, no dia 8.
O primeiro evento foi marcado por confusão, com a Guarda Civil Metropolitana (GCM) impedindo a entrada de pessoas, entre elas o vereador Toninho Vespoli (PSOL), que foi filmado tentando entrar no auditório e sendo impedido pelos guardas.
Já a segunda audiência, acompanhada pela Agência Pública, foi realizada em um espaço maior, comportou todos os presentes, mas também foi marcada por um clima tenso, com gritaria e bate-boca entre a maioria de manifestantes contrários à obra e uma minoria favorável ao túnel.
Os moradores da Sousa Ramos compareceram em peso e vários se inscreveram para falar contra a obra. “Tem um cronograma para o túnel, mas para as casas para as famílias não?”, questionou Núbia dos Santos, que cresceu na comunidade, onde a mãe ainda vive com outra filha e netos. “Isso é imoral”, desabafou ela, já em lágrimas, sobre a remoção das famílias.
Edição: Ludmila Pizarro
Foto: José Cícero / Ag. Pública

Sousa Ramos é uma de duas comunidades que a prefeitura quer remover para dar lugar ao “túnel Sena Madureira” ...
Foto: Isabel Seta / Ag. Pública

Marcos Monteira, secretário de Infraestrutura e Obras, responsável pelo projeto do túnel da Sena Madureira
Foto: José Cícero / Ag. Pública

“É um pesadelo que eu não desejo para ninguém”, disse à Pública a assistente jurídica Ana Clara Costa, que cresceu na comunidade, onde seus pais e seus irmãos ainda vivem
Foto: Isabel Seta / Ag. Pública

Na segunda audiência, moradores da Sousa Ramos compareceram em peso